Maconha – Cannabis sativa

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Maconha - Cannabis sativa
Imagem: PxHere

Atualmente a maconha é uma das drogas ilícitas mais polêmicas, e também mais consumidas no mundo todo, apesar de sua comercialização já ser liberada em vários países.

Isso ocorre pois embora seja consumida com fins recreativos como diversas outras substâncias, a maioria dos usuários acredita que ela não é capaz de causar danos ao organismo humano, apesar de diversos estudos provarem o contrário.

A discussão pode ir ainda mais longe, quando aborda-se o fato de ser possível se extrair dessa planta, alguns princípios ativos que possuem bastante importância na área medicinal, uma particularidade que com certeza merece atenção.

Por esses motivos, vários países vêm debatendo a questão sobre a utilização desta droga, seja para o uso recreativo, como também para estudos científicos na área da saúde, e alguns deles já estão bastante adiantados nesse quesito.

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O Uruguai por exemplo, causou um verdadeiro rebuliço em 2013, ao tornar-se o primeiro país a legalizar totalmente o uso recreativo da maconha em todo seu território nacional.

O governo holandês por outro lado, enfatiza que assim como outras substâncias menos perigosas, a maconha é somente tolerada pelas autoridades, mas seu porte e consumo não é legal.

Mesmo assim, o seu uso recreativo foi descriminalizado ainda no ano de 1976 no país, o que trouxe certo status à Holanda, por conta da sua visão liberal diante dessa questão.

Nos EUA, um total de 35 Estados legalizaram a maconha para finalidades terapêuticas, sendo que 16 deles permitem que os adultos possam usá-la legalmente de forma recreativa.

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Vale ressaltar que os Estados de Colorado e Washington descriminalizaram a maconha há quase 10 anos. De lá para cá, diversas pesquisas e estudos científicos passaram a detalhar os reais impactos da legalização na economia do país.

Além disso, em março de 2018, o México descriminalizou a utilização da erva para fins recreativos, mesmo que ainda não seja possível vendê-la legalmente no país. No mesmo ano o consumo de maconha também foi legalizado no Canadá.

Por mais incrível que pareça, uma pesquisa encomendada pelo governo canadense em 2020, evidenciou que apesar do que se esperava, o consumo da droga aumentou somente 1% entre a população no geral.

A utilização de maconha por adolescentes, que era o mais preocupante para as autoridades do país, aumentou cerca de 3%, ficando bem abaixo do que era esperado. Contudo, a descriminalização ajudou a reduzir drasticamente o número de prisões por porte.

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Jovem fumando maconha

Imagem: Pixabay

Antes da nova legislação entrar em vigor, as forças policiais registraram 26.402 apreensões até outubro, e em 2019 esse número caiu para apenas 46 no mesmo período do ano.

Por todos esses dados, o debate sobre a descriminalização da maconha vem sendo intenso nos últimos anos e alguns países como o Brasil por exemplo, estão bastante atrasados quanto à implantação de novas leis.

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O que é maconha e quais os suas principais propriedades

Apelidada também como marijuana, a maconha é uma droga ilícita no Brasil, obtida através da secagem natural das folhas de uma planta cientificamente conhecida como Cannabis sativa.

Se trata na verdade de uma herbácea da família das Canabiáceas, e sua resina possui diversas propriedades psicoativas, podendo atuar como analgésico, anti-espásticos, calmante para o sistema nervoso, embriagador, estomático, narcótico, sedativo, entre outros.

A maconha é amplamente cultivada e muito utilizada em todo o planeta, podendo dessa forma ser considerada como a droga ilícita de maior consumo no mundo todo. Quando comparada com outras substâncias lícitas, fica atrás apenas do cigarro e do álcool.

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Seus efeitos se devem a ela ser uma planta rica em diferentes substâncias químicas, com propriedades que vão desde medicinais, à efeitos psicotrópicos, podendo atuar diretamente no sistema nervoso central e afetar os processos mentais.

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Em resumo, quando consumida, esta erva tem a capacidade de alterar a percepção, as emoções e/ou o comportamentos do usuário.

Sua principal forma de administração é a fumada, e este método é capaz de surtir um efeito muito rápido no organismo, sendo de aproximadamente meia hora até atingir os níveis mais altos na circulação.

Na verdade, diversos estudos demonstram que a maconha contém mais de 400 componentes, sendo que aproximadamente 60 deles podem ser classificados como canabinóides, os seus compostos psicoativos.

Mesmo estes canabinóides contendo propriedades medicinais importantes para o tratamento de algumas doenças, eles apresentam problemas por também estarem relacionados com efeitos colaterais psicotrópicos.

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O uso dessas substâncias pode levar à alterações na memória, depressão profunda, além de severas crises de euforia e ansiedade.

Entre os canabinóides mais importantes, podemos citar o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), que são amplamente estudados por seus efeitos psicoativos como relaxamento e sensação de bem-estar, além do uso no tratamento de doenças como epilepsia e esclerose múltipla.

Tetra-hidrocanabinol

O tetra-hidrocanabinol, conhecido também como THC, é considerado como a principal substância psicoativa da maconha, sendo capaz de causar uma grande influência sob sistema nervoso central.

Ao atingir os neurônios, o THC reconhece seus receptores e se liga a eles, causando os efeitos da droga.

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Estes receptores têm importância em diversos processos fisiológicos, tais como regulação do metabolismo, dor, ansiedade, crescimento ósseo e função imunitária.

Ele também é o principal responsável por promover sintomas psicóticos em pessoas que sejam mais vulneráveis.

Contudo, ainda é debatido pelo meio científico até que ponto este composto é responsável pelos efeitos obtidos com o consumo da maconha. Os estudos não discriminaram diferenças significativas entre a erva em si e o THC isolado.

Canabidiol

Diferentemente do THC, o canabidiol não causa intoxicação ou crises de euforia, interagindo principalmente com receptores específicos nas células como o CB1, encontrado em neurônios e células gliais, além do CB2, encontrado no sistema imune.

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Os medicamentos produzidos à base de canabidiol atualmente autorizados pela Anvisa, em sua maioria são indicados para o tratamento de espasmos musculares causados pelos sintomas da esclerose múltipla.

Contudo, em outros países como os EUA por exemplo, existem fórmulas utilizadas para tratar Alzheimer e doença de Parkinson, além de analgésicos utilizados em pacientes com câncer terminal.

Cientistas vêm testando também outros benefícios terapêuticos e o potencial clínico do canabidiol em culturas celulares e animais, a fim de testar sua ação imunossupressora e sua eficácia para o tratamento de diabetes, náuseas e ansiedade, além de seus efeitos em distúrbios do sono.

Outras formas de consumo

Haxixe

Haxixe é o nome dado à resina extraída da Cannabis sativa que é seca e prensada para consumo, podendo ser considerada uma apresentação bem mais concentrada da maconha.

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Essa forma da droga apresenta um poder psicoativo maior do que aquela que é fumada frequentemente, sendo geralmente ingerido ou mesmo inalado.

Skunk

Quando falamos em skunk, podemos dizer que se trata de uma variedade diferente da maconha que foi especialmente cultivada em ambientes controlados e por esse motivo apresenta altas concentrações de tetra-hidrocanabinol.

Assim é possível se obter uma versão mais forte do que a maconha tradicional com efeitos bem mais intensos. Novos estudos têm demonstrado que a utilização de skunk pode até triplicar o risco do usuário chegar a desenvolver distúrbios psicológicos e psiquiátricos.

A maconha e a legislação brasileira

De fato, nos últimos anos, diversos estudos têm demonstrado as propriedades terapêuticas das substâncias presentes na Maconha e os benefícios clínicos que ela pode proporcionar.

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Contudo, em território brasileiro, a Lei 11.343, chamada de Lei de Drogas, que foi implantada em 2006, ainda caracteriza o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam se extrair ou produzir drogas, como ação criminosa.

Maconha, Cannabis

Imagem: Rawpixel

Segundo a atual legislação, quem comercializar maconha ou mesmo consumir para fins recreativos sem autorização da Justiça pode ser punido com prisão.

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Vale lembrar que a legislação não impõe um limite concreto no que diz respeito à quantidade a ser portada pelo indivíduo, ficando à cargo do agente ou mesmo do juiz, a interpretação se a quantidade de droga é grande ou não.

A única exceção vai para aquelas plantas de uso ritualístico ou religioso, assim como na Doutrina espiritualista Santo Daime, que tem como base o uso sacramental de uma bebida chamada Ayahuasca, além de alguns fins medicinais e científicos.

O debate envolvendo a legalização e a descriminalização da erva vem de longa data, mas sempre está envolto por questões delicadas como preconceito racial e social, partindo muitas vezes de representantes de organizações, assim como de juristas e médicos que mantém direcionamentos contra e a favor.

O problema vai mais além, pois mesmo com a legislação em vigor, atualmente o Brasil não aborda pontos objetivos referentes à quantidade que uma pessoa pode portar para não ser enquadrado como traficante.

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A cartilha que fala sobre maconha, cocaína e inalantes da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, destaca que cerca de 9 a cada 100 brasileiros já fizeram uso de maconha ao menos uma vez durante sua vida.

Atualmente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não reconhece produtos à base de Cannabis sativa como medicamentos, mas autoriza a sua importação somente com a apresentação de autorização judicial e receituário médico.

Em dezembro de 2019, a entidade de fato regulamentou a pesquisa, a produção e a venda desses fármacos, mas a importação dos mesmos tornou-se praticamente inacessível.

O processo demorava até 90 dias para ser autorizado, mas recentemente passou por uma flexibilização por conta da emergência na saúde pública causada pela pandemia de COVID-19. 

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Como resultado, em 2020 foram importados em torno de 45 mil produtos à base de cannabis, segundo os dados levantados pela própria ANVISA.

Os efeitos negativos da maconha quando utilizada a longo prazo

Apesar de ser considerada como uma droga inofensiva pela maioria dos usuários, pesquisas científicas têm demonstrado que a maconha pode trazer sérios danos ao organismo, principalmente quando utilizada grande quantidade ou por um longo período de tempo, apesar de se saber que podem haver complicações mesmo a curto prazo.

O abuso crescente dessa substância vem relacionado à crença de que por se tratar de uma erva natural, não fará mal à saúde, o que leva muitos a acreditarem que ela é uma droga leve.

Entre os efeitos colaterais mais comuns e imediatos relacionados à utilização da maconha, podemos citar os efeitos no sistema cardiovascular que podem chegar até 3 horas depois do uso, incluindo o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, além de algumas alterações importantes no fluxo cerebral.

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Fora isso, indivíduos que fazem uso frequente podem sofrer distúrbios de memória, como déficit de processamento de novas informações, assim  como distúrbios do sistema respiratório devido à fumaça que é lançada nos pulmões, além do aumento do risco de câncer.

Vale lembrar ainda que, quando utilizada periodicamente, a maconha passa a ser um sério fator de risco para o desenvolvimento de deficiências cognitivas incuráveis, transtornos psicóticos, além de depressão profunda e dependência psíquica.

Estudos demonstram que quanto mais cedo o indivíduo começa a  ter contato com essa substância, os malefícios podem aumentar consideravelmente, e caso haja exposição intra-uterina, os riscos são ainda mais sérios, pois a droga tem impacto direto no desenvolvimento do sistema nervoso central do feto.

O tetra-hidrocanabinol (THC) presente na maconha, tem afinidade a receptores no hipocampo, uma área no cérebro muito relacionada com o aprendizado e com a memória, interferindo diretamente no seu funcionamento e impedindo o cérebro de guardar novas informações.

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Além de dificuldade de aprendizado e concentração, o uso frequente dessa substância causar o surgimento da síndrome de hiperemese canabinoide, por causa da ação do THC sob o sistema gastrointestinal, provocando vômitos intensos e náuseas que podem levar a um quadro de desidratação.

Outro colateral sério que pode ocorrer, é o desenvolvimento de esquizofrenia devido à interação do THC com Sistema Nervoso Central, capaz de provocar alterações nos níveis de dopamina, epinefrina e norepinefrina, causando delírios, paranoias e até mesmo alucinações, além de comportamento violento.

Dados científicos demonstraram que a esquizofrenia causada pelo uso da maconha vem associada ao uso da droga na adolescência, pois neste período o cérebro ainda está se desenvolvendo. Em indivíduos que já possuem o diagnóstico da doença, a utilização dessa substância pode agravar ainda mais o quadro.

No ato da inalação, esta droga tem um efeito dilatador para os brônquios, e a sua fumaça pode ser capaz de causar uma intensa inflamação nos mesmos, levando ao desenvolvimento de infecções pulmonares, bronquite crônica, e até mesmo câncer de pulmão.

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Além disso, o consumo em grandes quantidades e por um longo prazo pode levar a um aumento do risco de infertilidade, tanto nos homens como nas mulheres, isso por interferir também na produção dos hormônios sexuais.

A maconha causa diminuição dos níveis de testosterona, diminuindo a produção de espermatozóides, que também podem sofrer com a diminuição da motilidade. Tudo isso sem contar que o uso frequente da droga pode afetar a libido masculina e até mesmo causar impotência.

Em mulheres, essa substância pode levar a alterações na ovulação e no ciclo menstrual, além de interferir na lubrificação vaginal, e também interferir na fertilidade, além de aumentar o risco de parto prematuro.

Pesquisas recentes demonstram que o uso da maconha durante a gravidez é capaz de causar diversos problemas ao feto, principalmente no que se diz respeito ao desenvolvimento cerebral e consequentemente na capacidade de aprendizado, além de diversos problemas comportamentais.

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Vale lembrar que qualquer droga ingerida pela mãe é capaz de afetar o recém nascido durante o período de amamentação, pois compostos como o THC são transmitidos ao bebê através do leite materno.

Os benefícios terapêuticos da maconha

Vários estudos têm demonstrado que algumas substâncias ativas presentes na Cannabis sativa, principalmente o canabidiol (CBD), podem proporcionar diversos benefícios terapêuticos, no tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, epilepsia, depressão ou dor crônica causada pela artrite ou fibromialgia, por exemplo.

Apesar de ter sua estrutura molecular bem parecida com a do tetra-hidrocanabinol (THC), segundo as pesquisas mais recentes, o CDB não apresenta tantos efeitos colaterais e por esse motivo já vem sendo utilizado como uma opção farmacológica em diversos países.

A ANVISA classifica os medicamentos provenientes da maconha que podem ser importados e tais fórmulas são indicadas nos casos onde outras formas de tratamento não surtem efeito, mas a comercialização pode ser feita somente com apresentação de receita médica controlada.

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Medicamentos derivados da maconha (cannabis)

Medicamentos derivados da maconha (cannabis) – Imagem: 396709644 / Depositphotos

No Brasil, apenas um medicamento à base de canabidiol e tetra-hidrocanabinol é autorizado para importação, com o nome comercial Mevatyl, sendo indicado principalmente para a redução de espasmos musculares em pessoas diagnosticadas com esclerose múltipla.

Contudo, em outros países como os EUA por exemplo, existem fármacos indicados para o tratamento de doença de Parkinson e Alzheimer, assim como analgésicos utilizados em pacientes com câncer terminal, para o alívio das dores.

Pesquisas também têm demonstrado um grande potencial terapêutico do canabidiol para produção de analgésicos e imunossupressores, assim como no tratamento de AVC, diabetes, além dos seus efeitos sobre os distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento.

Mesmo não sendo utilizados em sua amplitude, os componentes extraídos da Cannabis têm sido amplamente estudados pelos laboratórios farmacêuticos, que já vêm produzindo fórmulas para diversos problemas de saúde, como os relacionados abaixo:

    • Alívio de náuseas causadas pela quimioterapia;
    • Estimulante de apetite em pacientes diagnosticados com câncer ou AIDS;
    • Tratamento de depressão e ansiedade;
    • Tratamento da rigidez muscular e dor em pacientes diagnosticados com esclerose múltipla;
    • Melhora da dor causada por artrite ou fibromialgia;
    • Analgésico em pacientes com câncer terminal;
    • Redução da inflamação em pacientes com artrite reumatóide, síndrome do intestino irritável ou doença de Chron;
    • Redução da pressão interna dos olhos em pacientes com glaucoma;
    • Redução das convulsões em pacientes com epilepsia;
    • Redução de peso em pessoas obesas;
    • Atividade antitumoral.
Teremos o maior prazer em ouvir seus pensamentos

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