O gasto duplo em criptomoedas é um problema que remonta a décadas atrás. Isso pode até soar um tanto estranho, uma vez que as criptomoedas só passaram a se popularizar há pouco tempo. No entanto, desde a década de 90, quando o dinheiro digital começou a engatinhar, já existiam esforços para coibir o gasto duplo (double spending).
Porém, somente em 2009, como o lançamento do Bitcoin, é que o desafio do gasto duplo ganhou uma solução com praticamente 100% de eficácia. E hoje vamos falar sobre esse assunto, explicar o que é, como escapar de golpes e como a tecnologia ajudou a tornar as transações com criptomoedas mais seguras.
Assim, se você quer operar ou já opera no mercado de criptoativos, poderá agir com mais tranquilidade. Então, leia até o final e não perca nenhuma dica importante.
O que é gasto duplo em criptomoedas?
Como você deve saber, uma das principais vantagens das criptomoedas é sua segurança. No entanto, nem tudo é perfeito, e existe uma vulnerabilidade que chamamos de gasto duplo que pode comprometer a integridade dessas transações.
O gasto duplo refere-se a uma situação em que o indivíduo usa uma mesma unidade de criptomoeda em mais de uma transação. Isso acontece quando uma pessoa tenta gastar a mesma quantia de criptomoeda em diferentes operações, aproveitando-se da natureza descentralizada delas.
Para conseguir entender com mais clareza, imagine a situação na vida real. Vamos supor que você comprou uma barra de chocolate por R$ 5. No entanto, tenta comprar uma garrafa de suco com esses mesmos R$ 5. Acontece que, no caso do dinheiro físico, um humano é responsável por registrar a operação comercial. Em nosso exemplo, o caixa do supermercado ou balconista da loja. Enfim, essa pessoa não iria permitir que você fizesse as duas compras com a mesma nota se ela não cobrisse o valor dos produtos.
No entanto, no caso do dinheiro digital, ele pode ser copiado e enviado diversas vezes, assim como qualquer arquivo de música, de texto ou outro que geralmente enviamos e recebemos.
Isso acontecia de maneira recorrente nos primórdios da implantação da moeda digital, quando não havia recursos tecnológicos suficientes para monitorar cada operação.
Gasto duplo em criptomoedas e o Bitcoin
Em 2008, Satoshi Nakamoto (que ninguém sabe se é um pseudônimo de uma ou mais pessoas) desenvolveu e publicou o wallpaper do Bitcoin. Desse modo, o problema do gasto duplo ganhou uma solução muito interessante: a criptografia descentralizada.
Essa solução foi tão revolucionária para o mercado das moedas digitais que fez com que o Bitcoin se popularizasse e prosperasse rapidamente, o que perdura até os dias de hoje.
Para entender melhor como a tecnologia do Bitcoin é eficaz contra o gasto duplo, é importante compreender como acontecem as confirmações e registros das operações com criptomoedas.
Em um sistema como o Bitcoin, as transações são agrupadas em blocos e adicionadas a uma cadeia de blocos, conhecida como blockchain. Assim, cada bloco possui um identificador único, chamado de hash, que é gerado a partir dos dados contidos no bloco anterior.
Em geral, as transações de criptomoedas são verificadas e confirmadas pelos mineradores. A saber, esses mineradores são os computadores que trabalham para processar as transações e adicionar blocos à blockchain. Porém, essa adição dos blocos não é tão simples, como se fosse um puzzle ou algo do gênero.
Na verdade, para garantir a segurança e a integridade da rede, os mineradores resolvem problemas matemáticos complexos para adicionar um novo bloco à blockchain. Processo esse que chamamos de mineração.
Esforços da tecnologia blockchain para coibir o gasto duplo
Como vimos, quando um indivíduo realiza uma transação de criptomoeda, ela é transmitida para a rede e incluída em um bloco pelos mineradores. Assim, se a pessoa tentar fazer outra operação com essa mesma criptomoeda, o sistema fará a conferência automática para ver se já há um hash com aquela identificação. Caso haja, eles bloqueiam essa tentativa.
Além disso, se houver uma tentativa de operação simultânea usando a mesma criptomoeda, os mineradores irão validar aquela com maior indício de legitimidade. Por exemplo, vamos supor que o problema matemático usado para adicionar a hash à blockchain tenha 6 etapas. Aquela que estiver com o maior número de confirmações, ganhará a validação, enquanto a outra será classificada como gasto duplo.
Em outras palavras, para evitar o problema, a rede confia nos mineradores para validar a autenticidade da transação, verificando se o indivíduo possui fundos suficientes para realizá-la, e se ele já não utilizou esses recursos em outra operação.
É possível furar a blockchain?
Como vimos, a tecnologia de blockchain é bastante eficiente para evitar o gasto duplo de criptomoedas. No entanto, um indivíduo mal-intencionado pode tentar realizar um golpe desses ao criar duas transações diferentes, enviando-as para diferentes mineradores simultaneamente.
Devido à natureza descentralizada da rede, os mineradores podem receber essas transações em ordem aleatória, o que pode resultar na confirmação de ambas.
Desse modo, para prevenir o gasto duplo, a rede de criptomoedas depende do consenso dos mineradores.
Quando se adicionam os dois blocos conflitantes à blockchain, a rede considera o bloco com a maior prova de trabalho como válido. A saber, a prova de trabalho se refere ao esforço computacional necessário para resolver o problema matemático e adicionar um bloco à blockchain.
Portanto, considera-se o bloco que possui mais mineradores trabalhando nele e, consequentemente, mais prova de trabalho, como sendo o verdadeiro.
Idealmente, a probabilidade de ocorrer um gasto duplo em uma criptomoeda estabelecida como o Bitcoin é bastante baixa. Isso se deve ao fato de que a rede conta com a proteção de um grande número de mineradores, o que torna extremamente difícil para um indivíduo mal-intencionado realizar um golpe desses com sucesso.
No entanto, é importante ressaltar que em criptomoedas menos conhecidas ou com uma menor quantidade de mineradores, a possibilidade de que um golpe do gasto duplo se realize com sucesso pode ser maior.
A saber, existem duas hipóteses de acontecerem ataques ao blockchain com chances reais de sucesso: o ataque 51% (majority attack) e o ataque de corrida (race attack).
Ataque 51% (majority attack)
Como vimos, um gasto duplo ocorre quando registra-se falsamente uma transação em criptomoeda duas vezes, permitindo que alguém gaste a mesma quantia de moeda em duas transações diferentes. Sendo assim, isso é possível se um invasor conseguir capturar 51% do poder de hash da rede Bitcoin.
O poder de hash refere-se à capacidade computacional necessária para verificar as transações e blocos na rede.
Então, se um invasor tiver controle de 51% do poder de hash, eles terão a capacidade de modificar os blocos anteriores ao que estão tentando enviar o gasto duplo. Eles podem fazer isso rapidamente e com mais poder computacional do que o restante da rede blockchain.
Para ter sucesso em seu ataque, o invasor precisaria ser mais rápido na resolução de blocos do que os demais mineradores que estão trabalhando na rede. Isso porque, assim que se adiciona um novo bloco à cadeia de blocos (blockchain), essa transação é recebe confirmação e a validação de que é confiável.
No entanto, tal ataque com 51% de poder de hash é altamente improvável de acontecer, devido à maior desvantagem financeira e técnica enfrentada pelo invasor. Em outras palavras, é muito difícil que alguém possa arcar com o preço que custaria fazer isso. Além disso, propostas de atualização no protocolo da rede buscam reforçar ainda mais a segurança contra ataques dessa natureza, o que torna improvável que alguém tenha recursos tecnológicos para tanto.
Ataque de corrida (race attack)
Para realizar um ataque de corrida, o indivíduo mal-intencionado cria duas transações simultâneas usando a mesma quantidade de criptomoeda. Assim, essas transações vão para diferentes nós dentro da rede blockchain e, em seguida, o atacante esperará para ver qual transação recebe confirmação primeiro. Se a primeira transação for validada e inscrita nos blocos da blockchain antes da segunda, a segunda transação será rejeitada automaticamente.
Então, se o comprador não esperar a confirmação completa para pagar pelas criptomoedas, terá 50% de chances de obter esses ativos. Para simplificar, é como se um vendedor de produtos físicos oferecesse o mesmo par de tênis para duas pessoas e, então, ambas pagassem pelos calçados. Porém, como só há um produto, um deles vai ficar sem receber a mercadoria.
Por isso, voltando para as criptomoedas, é importante esperar as confirmações antes de realizar o pagamento e finalizar a operação. Apesar dessa recomendação ainda ter seu valor, nunca houve em todos os anos desde o lançamento do Bitcoin, um ataque desse tipo que obtivesse sucesso.
Como não cair em golpes do gasto duplo?
O primeiro ponto a se considerar para quem quer atuar no mercado de criptoativos sem riscos é escolher redes bem estabelecidas e que ofereçam um sistema de mineração robusto para coibir esse tipo de golpe.
Então, antes de operar na rede em questão, pesquise o máximo que puder sobre ela.
Em segundo lugar, é essencial aguardar ao menos 6 confirmações dos mineradores sobre a autenticidade da transação antes de finalizá-la.
Vale também lembrar que o mercado de criptomoedas é bastante seguro hoje em dia, do ponto de vista da garantia de que não haverá transações duplicadas. Apesar de serem operações descentralizadas, a identificação oferecida pela blockchain é muito poderosa, e está em constante evolução.
Então, agora que você já sabe o que é gasto duplo em criptomoedas, coloque esse conhecimento em prática e opere com segurança no mercado de criptoativos!